segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Gênesis


E Ele, num raro momento de rebeldia e pura inspiração
Juntou nas mão fartos montes de carne
Como um experiente argileiro, apalpou-as e 
                              [as amassou com aptidão
Até que as carnes se unissem e 
                  [formassem um único pedaço uniforme

Com esmero desmedido e aparente apreço,
        [Ele moldou a carne até então disforme
E nessa etapa se deixou trabalhar por longo tempo
Parava alguns instantes para examinar a obra e
             [parecia se orgulhar do que fazia
Enfim, terminou a moldagem e ficou a observar o resultado final
Percebeu que, apesar da beleza, faltava-lhe algo

Aquela perfeição necessitava claramente de algo que lhe desse vida, que lhe sustentasse
Algo que a fizesse existir sem que dela despendesse os ônus da existência
Foi então que, em outro arroubo de rebeldia, inspiração e criatividade Ele teve a idéia
Pegou uma pequena costela de um coadjuvante qualquer e dela fez a mulher
Percebeu que na mulher sua obra caia como uma luva
E viu que aquilo era bom
E viu que aquilo era muito bom
E viu aquilo
E viu...

E quando viu que Ele próprio anteciparia a lenda de Pigmalião
Decidiu se livrar de tão formosa tentação
E em raro momento de devaneio
Ele me deu a mulher e sua obra prima
Este pedaço de carne tão farto e belo, primazia
A quem deram o nome de seio
Matheaus Siebra
17/08/2012

sábado, 17 de novembro de 2012

Sobre tentativas e perdas


Não há cartas, luas ou paisagens que dê jeito
Nem rostos novos na mesma mesa
A mesa é antiga, este é o problema!


Não há rimas, estrofes ou poemas que comovam
Nem alexandrinos ou redondilhas de qualquer porte
Eles se prendem à métrica e este é o problema


Não há tolos, filósofos ou teóricos que confortem
Nem artigos de grandes especialistas
Nenhum deles habita esta pele, este é o problema


Mas sim, havia lembretes sobre tudo isto: Liberdade, novidade, superação
Também tinha algo sobre empolgação e tempo
E nada disso foi levado a sério, percebe o problema?
O tempo está entre nós como uma barra maciça
E o amanhã só existe quando acaba


Não há planos, diretrizes ou previsões que me prendam
Nem promessas repetidas de um novo futuro
O futuro não existe e isto passa longe de ser um problema

Matheaus Siebra
10/10/12

sábado, 18 de agosto de 2012

Tertia Lex



Se inspiração
Provoca meu íntimo que é vontade de pousar
Uma mão em sua
Carne quente carne
Molhada
Suada
Sua pele
Sua

Se inspiração
Recorre ao verbo generoso por definição
E te sugiro
Que dele não fuja
Que ceda ao seu comando
Como mando
Ando minha língua em sua

Se inspiração
Desafia e desafia meu lobo frontal
Afia meu instinto
Se motivo havia
Previa temporal
Agora, prévia de negação racional
Encontro casual

Se inspiração...
Causalidade!
Matheaus Siebra

19/08/2012

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Vai, mundo


Que visão de mundo o Raimundo tem
Ainda na cama com um jornal a atrapalhar-lhe o café
Antes de ler o que tem escrito no rodapé
Prefere abandonar este mundo e ficar de pé

Que visão de mundo o Raimundo tem
Com seu cigarro lento a enfeitar-lhe os lábios
Observando do banco da praça os homens alados
Prefere não comentar e fica calado

Que visão de mundo o Raimundo tem
Com um radim de pilha a beijar-lhe o ouvido
Escutando todo dia a hora do Brasil maldito
Prefere continuar vegetando a tentar um suicídio

Que visão de mundo o Raimundo tem
Com a televisão iluminando o escuro da noite
Os seus olhos de estátua a ver as bombas de hoje
Prefere dormir a ferir a vista com essas notícias de açoite

Que visão de mundo o Raimundo tem
Ainda na cama com um jornal a atrapalhar-lhe o pé
Antes de ler o que tem escrito na embalagem do café
Prefere abandonar este mundo e ler logo o rodapé

Que visão de mundo o Raimundo tem
Com seu cigarro lento a deixar-lhe alado
Observando do banco da praça os homens calados
Prefere não comentar e fechar os lábios

Que visão de mundo o Raimundo tem
Com um radim de pilha a incentivar-lhe o suicídio
Escutando todo dia a hora do Brasil ouvido
Prefere continuar vegetando a tentar o maldito

Que visão de mundo o Raimundo tem
Com a televisão iluminando o escuro de açoite
Os seus olhos de estátua a ver as bombas da noite
Prefere dormir a ferir a vista com essas notícias de hoje

Boa noite, Raimundo!

Matheaus Siebra
2010

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Aquela frase


Como se uma frase fosse a chave das portas da percepção
Como se tudo que eu disse até hoje
Não fossem indiretas do que acabei de dizer
Como se não acusasse isto, ficar falando ao teu ouvido até o dia amanhecer

Como se cada gesto meu não apontasse
E eu ficasse meio bobo a cada tentativa de disfarce
Como se antes de tudo isto acontecer
Eu já não sentisse a mesma coisa sem nem perceber

Como se tudo o que vivemos fosse um instante que passou
Um grito que se calou
Uma ferida que se fechou
A partir do momento que eu disse ao teu ouvido
Sussurrando num tom bem mansinho
Que o que eu sinto por ti é amor

Matheaus Siebra
23/05/2010