Ele chora
O corpo fraco, frágil, se estende nos ossos do colo da mãe
E ele chora silenciosamente...
Não desperdiça o pouco da força que lhe resta com soluços e escândalos
Com um esforço sobre-humano, ergue o braço e puxa um pedaço de pele colado à barriga daquela mulher
Puxa a pelanca e leva ate sua boca. Suga, suga, suga... Mas não há nada ali
Não há leite, não há água.
Mas não estão totalmente vazios os seios daquela sofredora
O menino talvez encontre no meio daquele misto de pele e curubas, de lama e de pus
Alguma gota de suor ou lágrimas escorridas que possam saciar sua sede
Talvez encontre até algo maior...
Encontre esperança e imagine pelo menos por dois minutos que vai ter um futuro
Pode ser que ache também força.
Pode ser que essa força permita-o não expor ainda mais seus ossos
Pode ser que esta força o faça conseguir virar o pescoço e olhar para a mãe que o observa
Ela, criatura triste e sofrida, se esquece de toda a miséria subumana em que vive
E nesse momento volta a ser mulher... Consegue até sorrir para confortar sua cria.
O menino, enquanto suga em vão aquelas tetas caídas, provavelmente fechará os olhos
E em meio ao caos vai enxergar um brilho intenso
Vai imaginar pessoas boas o cercando e dando as mãos
O menino está no centro das atenções, já não é mais um fantasma
O menino enxuga as lágrimas que desenhavam um córrego em seu rosto pontudo
Parece que se esquece da fome que o corroia até pouco tempo atrás
Ou ela realmente sumiu...
Esquece também de que sentia dor
Esquece que a justiça é cega, mas a injustiça tem olhos de lince pra caçar os mais indefesos
Esquece de toda a imperfeição que o cerca e quase adormece
Então, cansado, fecha os olhos lentamente para nunca mais abri-los de novo.
Matheaus Siebra
01/12/2010